Por que queremos tão intensamente nos transformar em memória? Mesmo enquanto estamos vivos. Nós desejamos afirmar nossa existência, como cães fazendo xixi em hidrantes. Nós expomos nossas fotos emolduradas, nossos diplomas em pergaminho, nossas taças banhadas a prata; fazemos monogramas nos lençóis, esculpimos nossos nomes em árvores, os rabiscamos nas paredes de banheiros. É sempre o mesmo impulso. O que esperamos ganhar com isso? Aplausos, inveja, respeito? Ou simplesmente atenção, de qualquer forma possível? No mínimo queremos uma testemunha. Não conseguimos suportar a ideia de nossas próprias vozes finalmente se silenciando, como um rádio pifando. Margareth Atwood – O assassino cego